SOL NA IGREJA
Luiza Villavicencio,
Outro dia eu fui numa missa homenagear a morte da madrasta da
minha mãe. A moça era velha e morreu de câncer no dia nove de março. O negócio
é que eu não conhecia ela direito e nunca falei muito com ela, então no meio da
missa pintou um TÉDIO, e o que você faz quando o tédio bate na sua porta? Você
observa. Isso mesmo. Então observei, observei as expressões das pessoas, da mãe
e da filha, do moço atrás de mim e principalmente uma moça, velha, mas não era
velha, só tinha cara de velha por causa das rugas, mas devia já estar no seus
50.
Essa moça vestia uma bata pink e meio termo, mangas meio termo,
comprimento meio termo, pescoço meio termo, tudo meio termo. Usava também um
colar chique, com pérolas imensas. Não usava maquiagem apenas um batom vermelho
sangue bem pigmentado e colado em seus lábios pequenos e enrugados. Mas a
mulher usava óculos... DE SOL! Quem em sã consciência usa óculos de sol numa
igreja SEM sol! Um óculos escuros bem pretos, redondos e muito grandes com
detalhes dourados ao redor da lente. Não fazia sentido! Ou será que é cega
tadinha? Mas não pode ser, não tinha bengala nem cachorro, e ela ainda estava
com a sacolinha do pão de açúcar! Se ela fosse cega, como ela ia ver o que
comprar? Então essa opção já estava eliminada. Minha segunda alternativa foi: E
se ela tiver uma doença? E se a luz do sol atingir seu olho e queima suas
pupilas? Mas também, não era possível. Não existe tal doença! Então em minha
mente senti a caneta riscando a 2ª alternativa. No entanto só sobraram duas
opções, duas opções tão distintas mas ao mesmo tempo tão semelhantes.
3ª- Queria aparecer mostrando os óculos caros.
4ª- Ou em vez de ter ido ao pão de açúcar ela foi até o estado
islâmico para negociar armas mas eles não aceitaram então ela roubou suas armas
e fugiu para o Brasil foi rezar uma missa e pôs então seus óculos escuros para
se esconder e pôs então suas armas na sacolinha do pão de açúcar.
Mas eu estava indecisa. Para mim as duas faziam sentido, quer
dizer, e segunda era totalmente sem noção, mas a última parte faz
sentido, quando eu menciono que a coitada estava se escondendo. Não havia
motivos para ela se esconder, ela pode não ter sua beleza exterior mas dentro
alguma mesmo que fosse mínima., tinha.
Nesse momento metade da igreja se levantou, incluindo ela. No
começo achei que todos iam embora e fiquei chateada que a moça ia simplesmente
sumir. Mas não era nada disso, eram só freiras distribuindo hóstias.
A moça de óculos
escuros andava corcunda, com sacolas e bolsas em sua frente. Ela era
escondida e in segura. Quando a freira baixinha pôs gentilmente a hóstia em sua
boca, a mulher exclamou “amém”, foi até o portão da igreja lotada e por uns 20
segundos encarou a plateia, foi-se embora. E então desse jeito a alternativa “4
” ganhou.
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