domingo, 24 de abril de 2016

SOL NA IGREJA

Luiza Villavicencio,

Outro dia eu fui numa missa homenagear a morte da madrasta da minha mãe. A moça era velha e morreu de câncer no dia nove de março. O negócio é que eu não conhecia ela direito e nunca falei muito com ela, então no meio da missa pintou um TÉDIO, e o que você faz quando o tédio bate na sua porta? Você observa. Isso mesmo. Então observei, observei as expressões das pessoas, da mãe e da filha, do moço atrás de mim e principalmente uma moça, velha, mas não era velha, só tinha cara de velha por causa das rugas, mas devia já estar no seus 50.
Essa moça vestia uma bata pink e meio termo, mangas meio termo, comprimento meio termo, pescoço meio termo, tudo meio termo. Usava também um colar chique, com pérolas imensas. Não usava maquiagem apenas um batom vermelho sangue bem pigmentado e colado em seus lábios pequenos e enrugados. Mas a mulher usava óculos... DE SOL! Quem em sã consciência usa óculos de sol numa igreja SEM sol! Um óculos escuros bem pretos, redondos e muito grandes com detalhes dourados ao redor da lente. Não fazia sentido! Ou será que é cega tadinha? Mas não pode ser, não tinha bengala nem cachorro, e ela ainda estava com a sacolinha do pão de açúcar! Se ela fosse cega, como ela ia ver o que comprar? Então essa opção já estava eliminada. Minha segunda alternativa foi: E se ela tiver uma doença? E se a luz do sol atingir seu olho e queima suas pupilas? Mas também, não era possível. Não existe tal doença! Então em minha mente senti a caneta riscando a 2ª alternativa. No entanto só sobraram duas opções, duas opções tão distintas mas ao mesmo tempo tão semelhantes.
3ª- Queria aparecer mostrando os óculos caros.
4ª- Ou em vez de ter ido ao pão de açúcar ela foi até o estado islâmico para negociar armas mas eles não aceitaram então ela roubou suas armas e fugiu para o Brasil foi rezar uma missa e pôs então seus óculos escuros para se esconder e pôs então suas armas na sacolinha do pão de açúcar.
Mas eu estava indecisa. Para mim as duas faziam sentido, quer dizer, e segunda era totalmente sem noção, mas a última parte  faz sentido, quando eu menciono que a coitada estava se escondendo. Não havia motivos para ela se esconder, ela pode não ter sua beleza exterior mas dentro alguma mesmo que fosse mínima., tinha.
Nesse momento metade da igreja se levantou, incluindo ela. No começo achei que todos iam embora e fiquei chateada que a moça ia simplesmente sumir. Mas não era nada disso, eram só freiras distribuindo hóstias.
A moça de óculos escuros andava corcunda, com sacolas e bolsas  em sua frente. Ela era escondida e in segura. Quando a freira baixinha pôs gentilmente a hóstia em sua boca, a mulher exclamou “amém”, foi até o portão da igreja lotada e por uns 20 segundos encarou a plateia, foi-se embora. E então desse jeito a alternativa “4 ” ganhou.


BLACK N SOUL

Luiza Villavicencio

Liniker, nome esquisito esse né? Mas lembra alguém né? Lembra futebol, jogador... Ah é! Gary! Grande Gary... como pude me esquecer dele? O melhor artilheiro da Inglaterra em copas do mundo! Mas não é do grande Gary que a gente vai falar, é sobre um outro Liniker, Liniker Barros um carioca transexual que usa dread locks.
 Desde quando estava na barriga da sua mãe, Barros era pensado no perfil atlético de grande Gary Liniker (por isso o nome), as esperanças de seus pais eram de que o garoto tivesse uma carreira de sucesso e “fosse o futebol”, como o craque. Mas Barros nunca vestiu uma chuteira, nunca pisou num campo de futebol e nunca nem optou por ser profissional. Ele não se misturou na laia dos garotos ordinários, em vez disso preferia espiar na casa da vizinha, os homens compondo sambas, debruçados em cadernos e cavaquinhos.
http://brasileirissimos.xpg.uol.com.br/wp-content/uploads/2015/10/liniker-capa.pngO moço gosta mesmo é de maquiagem, brincos, colares, saias, turbantes, principalmente quando está no palco. É, pois é, o garoto que era destinado a se tornar um craque do futebol acabou virando uma sensação na internet com seu EP com três faixas: “Louise du Brésil” “Caeu” e “Zero”, o vídeo tem 1,5 milhões de visualizações até agora.
 Todos estão sempre observando com curiosidade e empatia o rapaz com seu batom vermelho sob o fino bigode e a naturalidade com que ele veste roupas femininas. O problema minha gente, é que não se devia olhar com curiosidade ou estranhamento para qualquer um, incluindo gente LGBT. Outro dia eu vi um casal gay, de mãos dadas na rua e exclamei pra minha irmã “relationship goals” (em português=“casal modelo”). Mas aí reparei, ser (neste caso) gay, é igual ter olho azul ou marrom, cabelo loiro ou ruivo, pele negra ou clara, não é motivo pra encarar.
De batom, negro, trans, ele é bonito do jeito que é!
Beijinho no ombro pra vocês que não concordam.

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