O
que acontece no apartamento 72
Luiza Villavicencio
Todo
dia chego em casa às 18:30, às vezes faço lição depois janto e durmo, uma
rotina vespertina de um equipano que nem eu. Depois de acordar, vou ao quarto
da mãe me apoderar de suas roupas, isso por volta das 6:30. Então abro a janela e deixo os sons daquela manhã paulistana invadir o quarto.
Enquanto
jogo aleatoriamente as camisas e camisetas sobre as calças jeans enrugadas, o único
barulho mais irritante, perturbador, horrível, chato, amedrontador,
aterrorizante, horripilante e não tão agradável som de uma manhã paulistana me
lembra das desvantagens de viver em Higienópolis, como os garotos da quadrinha
gritando: "Queima o Rafael!!" "Salva, salva!!" " Entrou dois!" "Pega no ar!!" "Taca no
Frã!"
Enfim,
esse barulho irritante, perturbador, horrível..... É um grito, sim, um berro de
maníaco que está presente todos os dias 6:30 da manhã. Não é um berro comum, pois
ele te leva para outros lugares, normalmente para um hospício.
Ele
é um grito único que envolve língua e diferentes movimentos da boca. É
aparentemente de uma mulher com problemas mentais que provavelmente veio de
Arkham. O grito é misterioso, não é de alguém comum, tenho algumas hipóteses
redigidas no meu cérebro de trouxa, como:
1·
maníaca;
2·
alguém que tem um karaokê e canta extremamente mal;
3·
uma mulher que fala muito alto e precisa de uma fonoaudióloga.
E
é claro que o que toda pessoa normal faria seria pegar uma metralhadora e "tratratratratra!" Mas eu e minha mãe somos diferentonas e fomos reclamar com o
porteiro. Perguntamos a ele se a mulher punha despertador para as seis e meia
só para cumprir seu dever e gritar na janela do quarto para o quarteirão
inteiro ouvir. Ou será que é um ritual de magia negra? Ou talvez ela ouça bastante
Hello e tenta imitar a Adele. O porteiro exclamou que a nossa perturbação era
causada por uma criança problemática... Então aceitamos a sua resposta sem
reclamar e ficamos na nossa.
Por
volta de um mês depois de nossa reclamação quando estávamos pensando em chamar a
polícia ou o Conselho Tutelar e avisar o porteiro, ele finalmente nos
esclareceu...
─
Se trata de um papagaio.