quinta-feira, 5 de maio de 2016

O que acontece no apartamento 72
Luiza Villavicencio

Todo dia chego em casa às 18:30, às vezes faço lição depois janto e durmo, uma rotina vespertina de um equipano que nem eu. Depois de acordar, vou ao quarto da mãe me apoderar de suas roupas, isso por volta das 6:30. Então abro a janela e deixo os sons daquela manhã paulistana invadir o quarto.
Enquanto jogo aleatoriamente as camisas e camisetas sobre as calças jeans enrugadas, o único barulho mais irritante, perturbador, horrível, chato, amedrontador, aterrorizante, horripilante e não tão agradável som de uma manhã paulistana me lembra das desvantagens de viver em Higienópolis, como os garotos da quadrinha gritando: "Queima o Rafael!!" "Salva, salva!!" " Entrou dois!" "Pega no ar!!" "Taca no Frã!"
Enfim, esse barulho irritante, perturbador, horrível..... É um grito, sim, um berro de maníaco que está presente todos os dias 6:30 da manhã. Não é um berro comum, pois ele te leva para outros lugares, normalmente para um hospício.
Ele é um grito único que envolve língua e diferentes movimentos da boca. É aparentemente de uma mulher com problemas mentais que provavelmente veio de Arkham. O grito é misterioso, não é de alguém comum, tenho algumas hipóteses redigidas no meu cérebro de trouxa, como:
1· maníaca;
2· alguém que tem um karaokê e canta extremamente mal;
3· uma mulher que fala muito alto e precisa de uma fonoaudióloga.
E é claro que o que toda pessoa normal faria seria pegar uma metralhadora e "tratratratratra!" Mas eu e minha mãe somos diferentonas e fomos reclamar com o porteiro. Perguntamos a ele se a mulher punha despertador para as seis e meia só para cumprir seu dever e gritar na janela do quarto para o quarteirão inteiro ouvir. Ou será que é um ritual de magia negra? Ou talvez ela ouça bastante Hello e tenta imitar a Adele. O porteiro exclamou que a nossa perturbação era causada por uma criança problemática... Então aceitamos a sua resposta sem reclamar e ficamos na nossa.
Por volta de um mês depois de nossa reclamação quando estávamos pensando em chamar a polícia ou o Conselho Tutelar e avisar o porteiro, ele finalmente nos esclareceu...
─ Se trata de um papagaio.


Um comentário:

  1. villa, ta bem engraçado! gostei da crônica, mas (como sou bem crica) acho que para combinar mais com o estilo cômico da crônica, você podia usar uma linguagem menos fornal no começo.

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